Revisão de: Karate budo: O que é isso?

KARATE BUDO: O QUE É ISSO?


Humberto Pereira da Silva

Natal/RN, 07/03/2021

Revisado em 05/03/2025

Muitas vezes já ouvi dizerem: “eu luto Karate Budo!”. Afinal, o que é isso? É coerente o significado que dão a esta expressão com o real significado do Budo, uma vez que se diz que ela corresponde a uma forma de Karate que busca, sobretudo, a violência e a derrota do adversário? E o Karate, é realmente um Budo? Procuro pensar aqui este tal Karate Budo por meio de alguns autores que tratam, com propriedade, da questão do Budo.

Quando se diz "eu luto Karate Budo", geralmente é em situações em que se quer tentar convencer alguém de que se pratica “a forma certa” de Karate, que as outras são formas fracas, que isso é Budo ou, pelo menos, que esse Karate tem Budo. Porém, pergunte a alguém que diz que pratica Karate Budo: o que é isso? o que é Karate Budo? A resposta pode variar de alguma forma, mas a pessoa sempre terá a intenção de dizer que pratica um Karate de verdade, o Karate antigo, sem fantasias, um Karate duro, um Karate pancada; que este é que é o certo, o autêntico, entre outras coisas, mas não saberá dizer exatamente o que é Karate Budo. Também poderão dizer, é aquele Karate que não é de competição. 

Pretendo trazer um pouco da minha impressão sobre o que compreendo e sobre o que nos dizem alguns textos lidos por mim recentemente sobre o assunto, com maior ênfase na obra Ki e o Caminho das Artes Marciais (2012), de Kenji Tokitsu, além de outras também importantes, para tentar alargar um pouco o entendimento e divulgar algo com um pouco mais de base do que o que nos trazem os you tubers vazios e os textos copiados e colados de um site ou blog para outro repetitivamente e que não dizem muita coisa, mas inventam um bocado.

Falar de Budo é falar de algo estranho e em certos aspectos, algo que é ou parece ser antagônico à nossa cultura. Já devo ter cometido falhas por falar de assuntos que não vivenciei, mas, escrever sobre algo que não foi experienciado é comum e não é errado, desde que se busquem informações confiáveis. Portanto, vou me arriscar mais uma vez escrevendo sobre um assunto (o tal Karate Budo) que muitos falam quase que todos os dias, tanto nos locais de treino como nos de estudos, ou em simples discussões.

Na verdade, não se fala sobre esse tema, não se discute sobre ele, não se lê nem se pesquisa e consequentemente muito pouco se sabe sobre ele, mas se usa essa expressão praticamente todos os dias e às vezes várias vezes por dia e com uma segurança espantosa para quem só ouvi falar sobre ele e nunca leu nada a respeito. No final das contas, falar que pratica Karate Budo dá uma moral; provoca até medo.

Claro que somente a leitura – e muito pior - o simples ouvir falar sobre Budo e sobre Karate-do não me parece ser suficiente para que alguém entenda sobre isso, principalmente porque aqui se trata de um conceito e uma prática da cultura japonesa, a qual temos muita dificuldade de entender. Portanto, sinceramente, considero ser arriscado falar sobre assuntos que não dominamos ou experimentamos, mesmo que já tenhamos lido algumas coisas minimamente confiáveis a respeito.

Ler e estudar sobre um assunto não é a mesma coisa de vivenciar o assunto. A leitura não nos traz a experiência. Além disso, os livros, artigos e outros textos podem conter erros, equívocos, podem ser tendenciosos, etc. Enfim, mesmo o fato de vermos algo acontecer, nos dando a oportunidade de reportar tal coisa, não é o mesmo que vivermos tal coisa. Isso é apenas contar uma história e ela vai ser contada com nossas palavras, e quando alguém ler aquilo, vai ler com sua bagagem de conhecimento, fazer sua interpretação e nunca, nem quem escreveu nem quem leu, terá a experiência da vivência.

Por que falei da questão da importância de vivenciar sobre o assunto abordado? É que para entender Budo e falar a respeito é preciso vivenciá-lo, pois Budo é uma espécie de filosofia ou estilo de vida que se estende por um “caminho” (Do) sobre o qual escreve Kenji Tokitsu. Ele não abrange somente as artes marciais, sendo essas uma expressão possível dele, mas não a única. Do é como que uma busca que se realiza pelo caminho da vida e pode ser perseguido, por exemplo, por meio das religiões, uma vez que essas têm suas práticas ascéticas. Esse conceito, Do, aplicado às artes marciais japonesas, é o Budo.

Diz-se que a prática do Karate-do é para a vida toda. Isso espanta, de cara, ou seja, nas primeiras graduações, muitos praticantes, porque eles querem, na verdade, algo imediato e não que leve, simplesmente, a vida toda, ou seja, não compreendemos o que é esse “para a vida toda”, mas, entendam, isso nada mais é do que o “caminho marcial”[1],o tal do Budo.

Ora, Budo é a busca do crescimento mental, intelectual e espiritual por meio de uma prática ascética e, portanto, física e, nesse sentido, Tokitsu ensina:

Contrariamente a uma ideia bastante difundida nos círculos de artes marciais, Budo não é uma réplica das artes marciais como praticadas pelos guerreiros do passado. É um conceito moderno que tem como objetivo o treinamento do ser humano como um todo, intelectual e fisicamente, fazendo uso das disciplinas tradicionais de combate. Como vimos, é uma prática tradicional feita com padrões modernos de comportamento físico, aos quais questiona (Tokitsu 2012, p. 23).

 O espírito do Budo está, inclusive, em práticas esportivas que nem sabem que existe Budo, logo, o Karate esportivo pode, como outros esportes, levar (mas não necessariamente vai levar) a uma prática do Budo, mesmo que para isso seja necessária uma mudança na forma de praticar o Karate, abandonando a mera prática esportiva movida, muitas vezes, por interesses egoístas – sejamos justos. Mais uma vez recorrendo a Kenji Tokitsu, vejamos o que ele diz a esse respeito:

Do modo como é manifestado em Budo, o caminho não é nem arcaico nem místico. Sua prática não está restrita a asiáticos e tem sido oferecida bastante abertamente como uma maneira de buscar uma certa forma de perfeição que qualquer pessoa pode desenvolver com base em exercícios físicos. Parece-me que a maneira pela qual certos entusiastas da escalada ou da vela levam suas disciplinas ao ponto extremo de colocar a vida em perigo é próxima à ideia de “caminho”, porque estão procurando, por meio de técnicas físicas altamente exigentes, conferir significado à vida através de experiências nas quais confrontam a morte (Tokitsu 2012, p. 25).

Ainda de acordo com o mesmo autor, “se os ocidentais querem praticar Budo de um modo completo, me parece que um dos mais importantes problemas que enfrentam é o de pôr em prática a ideia de caminho”. Talvez até entendamos essa ideia e aí passemos a acreditar que, somando a esse entendimento capenga o fato de frequentarmos um suposto dojo, possamos considerar que estamos praticando Budo, porém, como dito acima, é preciso pôr em prática a ideia de caminho e o imediatismo do ocidental é um obstáculo quase intransponível.

Voltando à questão do seu significado, dependendo da abordagem, a utilização da expressão Karate Budo é uma contradição em si mesma. Afirmo isso porque para muitos a arte do Karate-do não se inclui nas artes do Budo. Surpreso? Vejamos algumas informações:

Filho & Monteiro (2015) dizem que:

Apesar de não surgir dentro do território japonês, o Karate-Dō veio a se desenvolver, de forma fundamental, também através das trocas culturais com imigrantes japoneses que se estabeleciam em Okinawa7,9. Aliado a diversos outros esforços, tal característica pode ter facilitado o registro da arte como um Budō. No entanto, isso fez com que, em certas ocasiões, o Karate-Dō não fosse reconhecido como uma verdadeira arte marcial japonesa7,16-17. Com a fundação da Dai Nippon Butoku-kai, toda arte marcial deveria ser registrada na instituição e seguir suas normas para tornar-se um Budō, desde que fosse uma antiga disciplina marcial japonesa. Não era esse o caso do Karate-Dō, arte trazida de uma ilha com fortes influências chinesas. Um dos aspectos desse novo período é que as antigas técnicas de luta, que utilizavam o termo Jutsu em seu nome, deveriam passar a utilizar o sufixo em substituição (Kenjutsu passa a ser Kendō, por exemplo)8-9,16. O Karate-Dō nem mesmo consta na lista da instituição referente a essas antigas técnicas guerreiras; aparece diretamente com sua nomenclatura atual18. Conforme observado, a situação do Karate-Dō enquanto Budō, à época de seu registro oficial, desenrolou-se de forma um tanto diferente das demais práticas. Isso, aliado a toda sua história prévia, reforça a característica multicultural da arte e coloca-se contrário a certos entendimentos, os quais posicionam o Karate-Dō como uma “genuína construção cultural japonesa”, conforme já salientado
pelo antropólogo Kevin Tan8 (p.169) (Filho & Monteiro, 2015, p. 397).

No mesmo sentido, dizem Frosi & Mazo (2011): 

No Japão, a partir da Restauração Meiji, que modernizou o país, diversas mudanças políticas e sociais ocorreram. Para o mundo das artes marciais, a fundação da Dai Nippon Butokukai61, uma instituição japonesa voltada para o desenvolvimento das artes marciais, foi um grande marco. A partir de seu estabelecimento, toda disciplina guerreira tinha que ser registrada nessa fundação e seguir certas normativas, como por exemplo, a adoção da graduação kyū/dan e o uso do dōgi branco. A partir desse registro a arte poderia ser reconhecida ou distinguida como Budō, desde que fosse uma antiga arte tradicional japonesa que antes se nomeava a partir do sufixo Jutsu. Como o Karate nunca foi uma arte tradicional japonesa e, portanto, não teve o sufixo Jutsu como parte de seu nome, nunca foi reconhecido como Budō (uma arte tradicional japonesa), apesar de ter sido reconhecida e registrada na Butokukai através dos esforços de Gichin Funakoshi (ANDRETTA, 2009; STEVENS, 2005). Cabe lembrar também que todas as artes japonesas sem exceção sofreram mudanças neste período, abandonando os nomes antigos e adotando os novos juntamente das novas diretrizes e preceitos. Assim o Jūjutsu tornou-se Jūdō, o Kenjutsu tornou-se Kendō (Frosi & Mazo, 2011, p. 305),

Assim, vejamos e reconheçamos, mesmo que acreditemos no contrário, que o que fazemos pode não ser Budo. Como assim?

Em primeiro lugar, como vimos, “Do modo como é manifestado em Budo, o caminho não é nem arcaico nem místico”, ou ainda, “Budo não é uma réplica das artes marciais como praticadas pelos guerreiros do passado”, ou seja, quando vamos a um dojo ou pelo menos a algo que cremos ser um, e ali fazemos reverências a uma parede, aos colegas, ao sensei e ao senpai, como que numa prática mística misturando formas de etiqueta e palavras em língua japonesa e achando que estamos dentro de um templo budista ou xintoísta, ou ficamos praticando os exercícios imaginando que aquela é uma forma arcaica praticada no Japão feudal – o que já é um erro, pois no Japão feudal não havia Karate -, não estamos praticando Budo, pois ele nem é arcaico nem místico.

Uma outra forma de nos enganarmos sobre a prática do Budo é achar que simplesmente por estarmos praticando Karate, uma coisa que vem lá do Japão, estamos automaticamente praticando Budo. Praticar Karate simplesmente por achar bonito, sem um objetivo mais elevado quanto ao crescimento da mente, do intelecto e do espírito, não é Budo.

Outro ponto é que, sim, o Budo é uma busca realizada por meio da prática física de alguma coisa e essa coisa, no caso, são as artes marciais, portanto, pode-se pensar que, simplesmente por estar praticando algo físico, e mais, uma arte marcial que está incluída no Budo, já se está praticando Budo. Acompanhando o raciocínio anterior, apesar de ser uma prática física e de ser uma arte marcial japonesa, não quer dizer que seja Budo. Muitos praticantes são conhecidos pela excelente perícia, mas também pelo desrespeito aos colegas, inclusive dentro do dojo. Certamente, alguém assim não pratica Budo, pois aí não há crescimento mental nem espiritual. O que importa não é o que se pratica, mas a forma como se pratica.

Como vimos no começo deste texto, há pessoas que acreditam que o tal Karate Budo é uma forma de Karate que tem como objetivo a aniquilação do adversário, mesmo que seja em uma competição esportiva ou mesmo em um treinamento! Como já afirmei, essa expressão é contraditória em si mesma, e apresento outro motivo. É que há a possibilidade de o significado de Budo ser algo que busca parar a violência, o que vai de encontro à afirmação de que o Karate deve ser algo essencialmente violento.

O site Budokast afirma:

Assim, vamos analisar um pouco a questão etimológica de Budo. Começando pelo ideograma “Bu”, ao pesquisar um pouco a língua japonesa rapidamente nos deparamos com as palavras que essa raiz constrói. Buki (武器) significa armas, Bushi (武士) guerreiro, ou mesmo Buyuden (武勇伝), as lendas contadas sobre bravos guerreiros. Indo um pouco mais além, e desfragmentarmos o Kanji em radicais, veremos a ligação de Yoku (), que pode significar flecha como na palavra Yokujin (弋人) que significa arqueiro, e o Kanji que significa parar. Diversas vezes já vi esta construção ser ligada à ideia de que Bu significa interromper/parar um ataque, no entanto, ao observarmos a construção histórica do Kanji descobrimos que a ideia formadora do ideograma é a de um indivíduo parado carregando uma arma, no caso possivelmente um arco e flecha como sugere o radical (Goulart, 2019).

Em Canal Budo (Oliveira, 2020) o autor também afirma que Budo pode ser interpretado com o significado do “pensamento oriental de interromper as armas”; “a ideia ampla de Budo não é guerrear, mas, interromper os conflitos existentes”. André Oliveira afirma, ainda, que Budo pode ser interpretado como “interromper a nossa própria arma, ou acabar com o conflito ou com o pensamento agressivo dentro de nós mesmos”.

Ito (2021, p. 4), no mesmo sentido, afirma que: “Isto posto, pode-se concluir que Budo é o ‘caminho para deter o conflito’, pois mesmo com a utilização da força e das armas durante o trajeto do guerreiro, no final, o objetivo principal dele é acabar com a violência e interromper o conflito”.

Pois é, parece que muitos karateka acham que praticam Budo por meio do Karate e não chegam nem perto. Outros acham que não praticam Budo porque isso é o Karate antigo (porrada) e hoje isso está muito restrito a alguns poucos sensei antigos, sendo que praticam muito mais que muitos que acreditam praticar. Mas como posso, diante da minha pequenez frente a este assunto, tentar definir o que é Karate Budo, se é que isso é possível? Só posso dizer que estou, talvez, perto de saber o que é Karate e, também, dizer que, de alguma forma, por meio dos textos que consultei, tenho uma pequena e fraca luz que tenta me clarear o entendimento altamente obscurecido pela cultura ocidental do que é Budo.

Assim, tentando facilitar um pouco as coisas, o seguinte trecho pode ajudar a melhorar essa contraditória expressão Karate Budo:

Quando as pessoas falam sobre o espírito da prática do kendo, judô ou karate, muitas vezes usam uma qualificação adicional, ligada pela palavra como. Por exemplo, kendo (judô, karate) como esporte competitivo ou kendo (judô, karate) como budo (Tokitsu 2012, p. 23).

Notemos que, quando passamos a entender que o Karate ou qualquer outra arte marcial japonesa pode ser praticado com objetivos voltados ao Budo ou não, é preciso fazer como nos alerta o autor citado, ou seja, procurar nos expressarmos de uma forma que façamos entender que na prática das artes marciais japonesas pode ou não haver Budo.

Quando usamos a expressão Karate Budo, podemos dar a impressão de que há um Karate que é Budo e outro que não é, uma vez que “Budo” aí funciona como um qualificador do Karate e, o não uso desse qualificador seria a expressão de um Karate (não) budo. Na verdade, pensando com Tokitsu, é melhor entendermos que o Karate pode ou não ser praticado como Budo. Portanto, prefiro aqui tentar definir, na minha pobre opinião, como é o Karate praticado como Budo, e não esse tal Karate Budo.

Na primeira versão deste texto afirmei que o Budo em si não tem princípios escritos e delimitados como um lema, assim como o Dojo Kun ou o Niju Kun do Karate-Do Shotokan. Continuo pensando da mesma forma (até que me surja o Budo escrito a exemplo dos lemas do Karate), porém, gostaria de acrescentar que essa tradição possui uma instituição no Japão que trata especificamente dela[2], a Nippon Budo Kyogikai (Associação Japonesa de Budo). Pelo que posso compreender, a associação definiu não um lema, mas recomendações para que a moderna prática do Budo seja adequada ao que ele traz em essência, não se desviando desta por conta da forte influência da modernidade e, sobretudo, do modo de vida ocidental. Assim, o Budo é como algo implícito na cultura japonesa e que anda paralelamente à filosofia do Do – outro conceito que tem profundos significados, mas não lemas como há no Karate-do -, buscando que o praticante, por meio da prática austera, persiga uma elevação em sua moral durante o trilhar do caminho (Do). Podemos dizer, portanto, que o Budo e o Do andam juntos. Tanto a respeito da influência do modo de vida ocidental sobre o Budo como sobre a inevitável conexão entre ele e o conceito de caminho (Do), Tokitsu afirma:

O que é budo então? A simples noção de budo implica a necessidade de refletir sobre a prática técnica das artes marciais, bu, em conexão, com a noção de “caminho”, do. O termo data do período Edo e significa “o caminho do guerreiro”. Após o período Meiji, seu significado alterou-se para designar o caminho marcial numa sociedade que estava sendo transformada pela importação de modelos ocidentais (Tokitsu 2012, p. 25).

Os princípios morais do Karate-Do foram elaborados por professores que tiveram grande influência das religiões mais praticadas no Japão, o Budismo e o Xintoísmo. Gichin Funakoshi sensei, particularmente, deu uma contribuição diferenciada, pois recebeu educação esmerada tendo sido letrado em clássicos da literatura chinesa. Esses princípios, por si sós, já seriam suficientes para nortear a conduta dos praticantes no sentido de atingir a elevação moral almejada pelo Budo, porém, estando inseridos no contexto do Budo, passam a ser parte deste e aceitos por este como princípios norteadores, ou seja, para que o praticante esteja praticando Karate como Budo, é preciso que ele esteja sempre perseguindo o cumprimento do Dojo Kun e do NiJu Kun, pelo menos dentro do dojo, mas isso não é suficientemente.

   

Dojo Kun. Fonte: https://jkabrasil.com.br/filosofia/, acessado em 17/08/2024                                                  

Budo. Fonte: https://karatecomofilosofiadevida.blogspot.com/2010/06/budo.html, acessado em 17/08/2024

No dia a dia do dojo (numa tradução possível, o “local de prática do caminho”) nos são dadas várias oportunidades de se aperfeiçoar no Budo. O esforço para evitar expressões de egoísmo, a procura por se manter firmes no caminho filosófico do Karate-do, a tentativa da superação física e mental a cada treino, o sentimento de respeito que deve ser mantido e o autocontrole na prática das técnicas traumáticas, são objetivos que podem levar à realização da prática do Budo.

Nesse sentido, acredito – apesar de já ter ouvido que os princípios morais do Karate-do são uma fantasia e que não devem ser incentivados, pois muitos o repetem e não o praticam – que o karateka está na direção do Budo na medida em que ele procura praticar os princípios contidos no Dojo Kun e no NiJu Kun, como já disse, pelo menos dentro do dojo, mas buscando, principalmente, concretizá-los na vida fora do treino de Karate, isso porque esses lemas são a compilação e representação do que os seus idealizadores entenderam como necessário para que o praticante de Karate-do se aproximasse e não mais se afastasse do ideal do Budo. Isso é, portanto, Karate como Budo.

Certamente que ao se esforçar para praticar os princípios morais dentro do dojo, esse comportamento poderá ser mais facilmente refletido na vida lá fora e a pessoa vai estar, assim, efetivando os ensinamentos do Karate como Budo, caso contrário, os únicos ensinamentos que ele levará serão as técnicas de luta ou de competição, que são inúteis para, como diz o Dojo Kun, a formação do caráter.


Osu!








Obras Citadas

FILHO, B. J., & MONTEIRO, A. d. (Julho de 2015). A simbologia presente nos estilos de Karate-Do. Revista Brasileira de Educação Física, 395-407. Acesso em 15 de Julho de 2024

FILHO, F. D. (2015). Corpo, mente e espírito no contexto da arte das mãos vazias: a efetiva contribuição do karate-do shotokan a essas dimensões do ser. Natal, RN, EDUFRN.

FROSI, T. O., & MAZO, J. Z. (Abril de 2011). Repensando a história do karate contada no Brasil. Revista brasileira de Educação Física, 297-312. Acesso em 15 de Julho de 2024

FUNAKOSHI, G. (2010). KARATE-DO, O meu Modo de Vida. São Paulo: Cultrix.

GOULART, G. (17 de Setembro de 2019). O que é Budo? Acesso em 05 de Março de 2025, disponível em Budokast: https://www.budokast.com.br/post/o-que-%C3%A9-bud%C5%8D

ITO, N. (28 de Dezembro de 2021). Um breve percurso histórico sobre o Budo: de arte marcial japonesa à prática esportiva mundial. Revista de Estudos Orientais, 185-201. doi:https://doi.org/10.11606/issn.2763-650X.i9p185-201

OLIVEIRA, A. (19 de Agosto de 2020). Budo - parte 1 - O que significa Budo? Acesso em 05 de Março de 2025, disponível em Canal Budo: https://www.youtube.com/watch?v=MGAuFUnbwzQ

TOKITSU, K. (2012). Ki e o Caminho das Artes Marciais. (L. C. Cintra, Trad.) São Paulo, SP, Brasil: Cultrix.



[1] Uma tradução possível para o termo Budo.
[2] Informações disponíveis em: https://madeinjapan.com.br/2010/12/22/budo-o-segredo-da-filosofia-oriental/, acessado em 15/08/2024, em: https://www.budokast.com.br/post/budo-kensho, acessado em 15/08/2024 e em https://shotokai.com/the-budo-kensho/, acessado em 16/08/2024

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